27 abril 2009

Bossa Nova dream

Antes dos anos 1950, a música popular brasileira era representada basicamente pelo samba, composto de ritmos binários e repetitivos e tendo a percussão como instrumento. Este era o estilo apreciado pelo povo, enquanto as classes dominantes ouviam o samba-canção: baladas compostas em ritmos simples, harmonia padrão e letras melodramáticas. Havia também a valorização das "grandes vozes", o cantar empostado, forte. Foi então que a Bossa Nova surgiu, como uma grande "onda que se ergueu no mar", entre as décadas de 1950-60, no Rio de Janeiro, particularmente, em Ipanema e Copacabana.


As inovações musicais, propostas pela Bossa Nova, modificaram o samba tradicional sensivelmente, com variações de harmonia, melodia e ritmo, que se tornou mais lento. A batida inconfundível do violão de João Gilberto e seus acordes dissonantes influenciou e foi influenciado pelo jazz. Surge, então, o conceito do "canto- falado", do cantar baixinho e a música brasileira se encheu de suavidade, brasilidade e leveza. Ao agregar valores da música erudita ao repertório popular - sobretudo com Tom Jobim ao piano - o movimento cresceu e, como um tsunami, avançou muito além das areias de Copacabana: a Bossa Nova ganhou o mundo. Garota de Ipanema é a segunda canção brasileira mais interpretada no mundo: mais de 150 gravações.


Vinícius não pode ser esquecido. Por fim, é importante dizer, a Bossa influenciou enormemente o Tropicalismo, que acrescentou às inovações musicais, o conteúdo engajado, num casamento perfeito. Caetano Veloso, grande admirador e discípulo de João Gilberto, disse certa vez sobre a Bossa Nova: "Melhor que isto só mesmo o silêncio, melhor que o silêncio, só mesmo João". Viva a Bossa ça ça!


50 Anos depois:


Exposição Bossa na OCA (2008)

Ouça www wave


21 abril 2009

Tropicália


Com "plantas, araras, areia e pedrinhas" Hélio Oiticia tentou criar um cenário tropical para a arte brasileira, colocando-se em oposição às tendências européias e norte-americana da Pop Art. E criou a instalação acima, chamada "Tropicália" e, quase que sem querer, batizou um movimento que viria surgir logo depois.




A "Tropicália" de Caetano Veloso não foi exatamente um movimento articulado, ou seja, criado com intenção de ser um movimento. Todas as coisas que estavam acontecendo no momento, anos 1960, convergiram para o que se denominou a posteriori "Tropicalismo" ou "Tropicália". Depois da exposição de Oiticica, Caetano criou a música de mesmo nome na qual captou a proposta contida na obra-ambiente transportando-a para a música em forma de "poema-paisagem" no qual desfilam vários ícones de brasilidade arcaicos ou modernos, e "inaugura o movimento no planalto central do Brasil".
Na canção intitulada "Tropicália", Caetano fez um paralelo com a instalação Tropicália ao descrever o "monumento-Brasil" com todos os elementos típicos da brasilidade, que afinal era o tema central do tropicalismo e das artes da primeira metade século XX. "A Banda", de Chico Buarque, "da da", referência ao dadaísmo e IRACEMA, de José de Alencar, um anagrama de AMÉRICA.

Contudo, o "tipicamente brasileiro" não era assim tão óbvio antes de o Tropicalismo inventá-lo. Na década de 1960, os artistas se colocaram na linha de fogo, entre o conservadorismo burguês, de um lado, e o nacionalismo/ufanismo, de outro. Sabe futebol, carnaval e outros clichês? Então, isto é o que quer dizer ufanismo ("orgulho de ser brasileiro") e não era bem esta a proposta de brasilidade, pois entendia-se que isto tudo só servia para alienação - leia-se: desviar a atenção do povo das coisas sérias e sujas. E, por falar nisso, em 1968 saiu o álbum Tropicália ou Panis et Circenses, no tempo em que "os Mutantes" era mais do que novela chinfrim e a Record lançava novos baianos como Gil e Caetano.

Rita Lee em Os Mutantes (1972)
Não foi apenas a exposição de Oiticia que inspirou Caetano a compor Tropicália. Ele diz ter sido influenciado pela poesia pau-brasil e pelo antropofagismo. E, além disso, ele compôs a canção uma semana antes de assistir O Rei da Vela - peça de grande impacto, encenada pelo Grupo Oficina e dirigida por José Celso Martinez Corrêa, em 1967, a partir da obra homônima de Oswald de Andrade. Uma ruptura sem precedentes se concretizava na cena artística brasileira, com pessoas de grande potencial crítico e criativo. Mas eis que chega a Roda Viva e carrega a Tropicália pra lá... a ditadura militar acabou com a festa tropicalista.