20 junho 2009

Walter Miranda

Você já ouviu falar muito sobre ele. Está na hora de saber o que faz o "lendário" Walter Miranda:



Ele é um artista plástico versátil, dinâmico e irrequieto que está sempre atualizando suas obras a fim de retratar a mudança dos tempos. Quando começou sua carreira, trinta anos atrás, suas obras abordavam o contexto da ditadura militar, assim como das manifestações estudantis, que abriram as portas para a democracia no país, movimento do qual ele também participou ativamente. Prova de contato (foto) A força do argumento e O preço da liberdade são deste período.



Na década de 1980, criou a série Estigma de George Orwell, trabalhos inspirados no livro 1984 do escritor bitânico George Orwell (pra quem não sabe de onde se tirou o nome Big Brother). Totalitarismos, supressão da liberdade, controle sobre o indíviduo sob o olhar do "Grande Irmão" chefe do Estado são os temas do livro e da série de Walter. E, por falar em alienação, ele também produziu a série A Taça não é nossa - o futebol, tema de alienação por excelência no nosso país.


E o que se faz com a liberdade a duras penas conquistada? Os rumos que o século XX haveria de tomar estão bem retratados nas obras do escritor Aldous Huxley e foi inspirado em seu trabalho que Walter produziu a série Admirável Mundo Novo, em 1986. O desequilíbrio, a alienação e o uso da tecnologia são amplamente abordados. Walter começa a utilizar a proporção áurea em seus trabalhos, associados a elementos da natureza, como folhas, terra, areia, sementes etc. À tradicional técnica de pintura à óleo foram incorporadas imagens digitalizadas e vários elementos do cotidiano tecnológico como placas de computador, chips, hds, processadores etc. Seus trabalhos remetem a reflexões acerca da degradação do meio ambiente e do uso consciente da tecnologia.




A partir da década de 1990, com o mundo já transformado na grande "aldeia global", seus trabahos voltaram-se para o planeta, como um todo. O Projeto Seattle: Exaltação à Gaia, de 1996, é um trabalho de envergadura ecológica, enfatizando o respeito pela Natureza, como Mãe-Terra, daí o nome Gaia (personificação da terra entre os gregos antigos). Elementos da natureza estão novamente presentes (como folhas, terra...), as cores são mais vivas e uma bonita plasticidade é agregada com a representação dos bailarinos, outro elemento constante. A inspiração para este trabalho foi a "Carta do cacique Seattle".



Na virada do milênio, a série Admirável Nova Idade Média solidifica o aprimoramento visual das obras, cujo tema é o quotidiano dentro do mundo tecnológico. Admirável Novo Milênio, o trabalho seguinte, explora além do hardware, o software. Com obras elaboradas a partir dos recursos da computação gráfica, Walter sugere um contraponto entre o real e o virtual, ao misturar nas composições elementos reais e formas que só existem no computador. A partir de 2001, o artista se dedica à criação de obras-objeto, como O livro de Gaia. Participa também da exposição coletiva "450 anos de São Paulo" promovida pelo SESC.


A partir de 2007, desenvolveu a série O Estigma do chefe Seattle na qual a Terra é representada pelo próprio globo, num mundo já sem fronteiras. O destino incerto do planeta, mostra que a Terra foi sucateada pelo homem, ao contrário do apelo do velho cacique. Para demonstrar isso, a série emprega sucatas na composição dos quadros como palitos de fósforos, lápis apontados e a própria terra, assim como outros elementos da natureza já presentes em obras anteriores e as placas de computador, sua marca indelével.

Como uma síntese dos trabalhos anteriores, Walter fecha um ciclo, mostrando no que o mundo se transformou desde os tempos da repressão no limiar da abertura democrática. Nada muito diferente do já preconizado por George Orwell ou pelo cacique Seattle: a Terra submetida aos caprichos da sociedade de consumo e o mundo sob o domínio de um único "Big Brother", o capital.

E agora prepare-se para conhecê-lo pessoalmente. Ele também já ouviu falar sobre você