Nós que somos impedidas de ciscar, abrir as asas e alçar pequenos voos, não podemos ser nós mesmas, será que se um dia saírmos daqui nos lembraremos de quem nós somos?
1º lugar no Festival de Vídeo do CEU Sapopemba - Jéssica Moura
"...Há um grande silêncio dentro de mim. E esse silêncio tem sido a fonte de minhas palavras. E do silêncio tem vindo o que é mais precioso que tudo: o próprio silêncio.
- Por que é que você olha tão demoradamente cada pessoa?
Ela corou:
- Não sabia que você estava me observando. Não é por nada que olho: é que eu gosto de ver as pessoas sendo.
Então estranhou-se a si própria e isso parecia levá-la a uma vertigem. É que ela própria, por estranhar-se, estava sendo. Mesmo arriscando que Ulisses percebesse, disse-lhe bem baixo:
- Estou sendo...
- Como? Perguntou ele àquele sussuro de voz de Lóri.
- Nada, não importa.
- Importa sim. Quer fazer o favor de repetir?
Ela se tornou mais humilde, porque já perdera o estranho e encantado momento em que estivera sendo:
- Eu disse para você - Ulisses, estou sendo.
Ele examinou-a e por um momento estranhou-a, aquele rosto familiar de mulher. Ele se estranhou, e entendeu Lóri: ele estava sendo.
Ficaram calados como se os dois pela primeira vez se tivessem encontrado. Estavam sendo.
- Eu também, disse baixo Ulisses.
Ambos sabiam que esse era um grande passo dado na aprendizagem. E não havia perigo de gastar este sentimento com medo de perdê-lo, porque ser era infinito, de um infinito de ondas do mar. Eu estou sendo, dizia a árvore do jardim.
Eu estou sendo, disse a água verde na piscina. Eu estou sendo, disse o mar azul do Mediterrâneo. Eu estou sendo, disse o nosso mar verde traiçoeiro. Eu estou sendo, disse a aranha, e imobilizou a presa com seu veneno. Eu estou sendo, disse uma criança que escorregara nos ladrilhos do chão e gritara assustada: mamãe! Eu estou sendo, disse a mãe que tinha um filho que esgorregava nos ladrilhos que circundavam a piscina. Mas a luz se aquietava para a noite e eles estranharam, a luz crepuscular. Lóri estava fascinada pelo encontro de si mesma, ela se fascinava e quase se hipnotizava.
Ali estavam. Até que a luz que precedia o crepúsculo foi se esgarçando entre penumbras e maiores transparências, e quase ausência, sem que aquela espécie de neutralidade fosse ainda tocada pela escuridão: não parecia crespúsculo e sim o mais imponderável de um amanhecer:
Tudo aquilo era absolutamente impossível, por isso é que Lóri sabia que via. Se fosse o razoável, ela de nada saberia.
E quando tudo começou a ficar inacreditável, a noite desceu.
Trecho do livro: UMA APRENDIZAGEM OU LIVRO DOS PRAZERES de Clarice Lispector - páginas 71 e 72
O buraco do espelho
(Edgard Scandurra/Arnaldo Antunes)
O buraco do espelho está fechado
agora eu tenho que ficar aqui
com um olho aberto, outro acordado
no lado de lá onde caí
pro lado de cá não tem acesso
mesmo que me chamem pelo nome
mesmo que admitam meu regresso
toda vez que eu vou a porta some
a janela some na parede
a palavra sede, a boca cede
antes de falar, e não se ouve
já tentei dormir a noite inteira
quatro, cinco, seis da madrugada
vou ficar ali nessa cadeira
uma orelha alerta, outra ligada
o buraco do espelho está fechado
agora eu tenho que ficar agora
fui pelo abandono abandonado
aqui dentro do lado de fora
O olhar pensa?
O olhar é a visão transformada em interrogação?
O que pode um sensível olhar-pensante problematizar?
"...For the first time in history
It's gonna start raining men
It's raining men
Hallelujah it's raining men, Amen..."
"... Pelo amor de Deus
Ao Nosso Senhor, pergunte
Se ele construiu nas trevas o esplendor
SE tudo foi criado:
O macho, a fêmea, o bicho, a flor
Criado pra adorar o criador
E se o criador inventou a criatura por favor
Se do barro fez alguém com tanto amor
Para amar Nosso Senhor
Não, Nosso Senhor
Não há de ter lançado em movimento
Terra e Céu, estrelas percorrendo firmamento em carrossel
Pra circular em torno ao criador
Ou será que o Deus
Que criou nosso desejo é tão cruel..."
Este foi um ano produtivo, com a criação do Blog como apoio das aulas de Arte. Aqui estão alguns dos melhores momentos de 2009. Estréia do nosso aluno William Damasceno no teatro, com a peça de Oswaldo Montenegro, A Dança dos Signos, do curso de teatro Oficina dos Menestréis: