27 novembro 2010

Uma Barata Feliz

"É COMUM SE DIZER QUE AS BARATAS sobreviveriam a desastres nucleareas. Isso deveria ter sido levado  mais a sério. Não no sentido comumente explorado pelo cinema B, mas no sentido do profeta Kafka: a besta em nós não está em nosso passado, mas em nosso futuro. E o engano mais comum nessa matéria se dá pelo fato de que o aliado da condição de besta no humano é a sistematização da vida em busca da FELICIDADE PLENA.

Salvador Dalí. Mulher na Janela

Todo mundo já ouviu falar do livro Metamorfose de Kafka, o livro em que o personagem Gregor Samsa amanhece transformado num inseto e morre de depressão na janela. Aliás, janelas são lugares típicos onde morremos à espera de uma redenção que nunca chega. O próprio Kafka volta a essa imagem outras vezes em sua obra.
René Magritte.


Um dos trechos inesquecíveis é quando a jovem barata passeia pela parede do quarto....

Ela parte da formação de qualquer amante da literatura. E mais: o importante na leitura de um livro como esse é como ele faz você ver a barata no seu espelho. Em Kafka, a literaura se realiza quando você vê a barata refletida no espelho. Ao final, a barata Samsa morre de tristeza na janela.
Mas voltando às paredes do quarto. Muitas vezes, em horas de agonia, contemplamos as paredes e o teto de nosso quarto, mergulhados no silêncio da solidão.



No trecho em questão, a jovem barata caminha pelas paredes e pelo teto, deixando uma espécie de gosma marrom produzida por suas infinitas perninhas. Essa mesma gosma a faz capaz de andar de lado e de cabeça para baixo, coisa que, quando humano, Gregor não conseguia fazer. Aí já vemos um dos ganhos de Gregor em virar uma barata.
No mundo melhor que desprezo, as baratas teriam uma passeata anual e direito a direitos humanos porque uma delas foi capaz de se emocionar ao experimentar a nova forma de liberdade presente em suas perninhas e sua gosma marrom.

Suspeitava Kafka, não sem nenhuma razão, que o darwinismo falava de nosso futuro e não de nosso passado. Uma barata feliz pode ser uma opção."

Do livro "Contra um mundo melhor: ensaios do afeto" pag. 46 - de Luiz Felipe Pondé - Editora LeYa

17 novembro 2010

Recitais das coisas belas da vida...

Um dia me disseste que existe um lugar para cada homem
             Mas qualquer lugar que você queira fugir, será sempre igual...

Só mais um campo de batalhas....
O que definir?... o bem e o mal possuem a mesma face

O sangue escorre em tinta de caneta
Para assinarmos uma identidade numérica
Números decompostos....

                              
Esse animal chamado homem carrega consigo o estigma
Se é que exista a verdade... Porque temer em terminar?

Talvez tudo isso seja um belo jardim onde não conseguimos
Enxergar sua beleza

Em meio de uma ilusória guerra entre almas e matéria... caminhamos
Titulados de homens racionais e civilizados...


                             
"Pra não dizer que eu não falei das flores..."

Texto de Sonia Alves

Quando te disseram que existe um lugar para cada homem. Acredite...
Os lugares nunca são iguais, nem os olhares. O que podemos ver talvez seja algo íntimo, que somente nós que olhamos podemos sentir.
Sentir que a tinta de cor vermelha, pode mudar de cor, de cheiro, de sentidos...
O homem comum, talvez seja mais feliz, já que felicidade são momentos e este homem possui mais momentos de inSônia...
Mas buscar momentos felizes é obrigação de qualquer ser, que sente a necessidade de manter viva a esperaça de encontrar seu lugar, o lugar que lhe pertence.