![]() |
Walter Miranda |
Sempre compreendo o que faço depois que já fiz.
O que sempre faço nem seja uma aplicação de estudos.
É sempre uma descoberta.
Não é nada procurado.
É achado mesmo.
Como se andasse num brejo e desse no sapo.
Acho que é defeito de nascença isso.
Igual como a gente nascesse de quatro olhares ou de quatro orelhas.
Um dia tentei desenhar as formas da Manhã sem lápis.
Já pensou?
Por primeiro havia que humanizar a Manhã.
Torná-la biológica.
Fazê-la mulher.
Antesmente eu tentara coisificar as pessoas e humanizar as coisas.
Porém humanizar o tempo!
Uma parte do tempo?
Era dose.
Entretanto eu tentei.
![]() |
Ipiranga III - 1997 |
Pintei sem lápis a Manhã de pernas para o Sol.
A manhã era mulher e estava de pernas abertas para o Sol.
Na ocasião eu aprendera em Vieira (Padre Antônio, 1604, Lisboa) eu aprendera que as imagens pintadas com palavras eram para se ver de ouvir.
Então seria o caso de se ouvir a frase pra se enxergar a Manhã de pernas abertas?
![]() |
Idolatria Tecnológica - VI - 2008 |
Estava humanizada essa beleza de tempo.
E com os seus passarinhos, e as águas e o Sol a fecundar o trecho.
Arrisquei fazer isso com a Manhã, na cega.
Depois que meu avô me ensinou que eu pintara a imagem erótica da Manhã.
Isso fora.
Manoel de Barros - Memórias Inventadas - 2008